Os perigos do engarrafamento do trânsito: horas perdidas,
estresse, acidentes de trânsito e de trabalho, vidas ceifadas
A par da questão existencial intrínseca da grande
densidade demográfica temos, em função da estrutura econômica que favorece a
grande concentração de riqueza, a concentração de indústrias, notadamente, de
grandes indústrias, nos chamados distritos industriais, que ficam, em geral,
longe, bem longe, de onde moram os trabalhadores. Temos ainda a concentração do
comércio em determinadas áreas, tipo, rua ou bairro das autopeças, dos
eletrônicos, das confecções, ou nos ‘shopping centers”. Tudo isto obriga a
grande maioria das pessoas, seja para trabalharem nessas fábricas e lojas ou
para nelas comprarem, a longos descolamentos.
Nos últimos
50 anos toda ideologia de desenvolvimento que foi incutida em nossas mentes foi
da vantagem do grande, das grandes rodovias, dos super portos, dos polos
petroquímicos, das grandes fábricas, das grandes lojas, dos hipermercados, das
grandes escolas, dos enormes hospitais, ... tudo que fosse grande, quanto maior
melhor, era alardeado como sendo o progresso. Construíram-se gigantescos
conjuntos residenciais ... longe, bem longe das fábricas, das escolas, das
lojas, dos polos petroquímicos, dos hospitais, e como os consultórios de
médicos, em geral, estão próximos deles, também os médicos estão longe da
população, e por aí afora.
Como regra
quem tem a necessidade de deslocar-se, dentro desse contexto, são as pessoas,
não os veículos. As pessoas buscam, como sempre buscaram, daí o progresso da
humanidade, o conforto, a comodidade. Logo, quem pode ir de carro ao trabalho,
ao médico, às compras, ... o faz. Mas, também, aumenta a poluição, o
engarrafamento do trânsito, o risco de acidentes, o estresse, as doenças, especialmente,
as emocionais, daí advém maior violência e desta a crescente criminalidade ... A tudo
isto se acresce a despreocupada e destrutiva programação televisiva, desde os
programas infantis.
Caldo mais
que perfeito para o quadro caótico existente e que, na nossa opinião, só tende
a piorar. Os investimentos em segurança, por certo, por maiores que sejam, não
resolverão a questão da falta de espaço e dos demorados e tediosos
deslocamentos a que todos estamos sujeitos. Assim, continuaremos a produzir
perturbados emocionais, pessoas estressadas, emocionalmente afetadas,
potencialmente violentas, ... daí assistirmos tantas e tantas vezes, frente a
crimes, a estupefação daqueles que conheciam o acusado, o réu. Essa vida de
tempo perdido e propícia a perturbar e adoecer nossas mentes, seguramente, está
por trás de tantas e tantas pessoas sem projetos de vida, pessoas desiludidas,
pessoas que vivem por viver. Daí cada vez em maior número, em mais tenra idade
e em maior volume o consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas. Daí para a
violência e à criminalidade o caminho é muito curto ... não tem
congestionamento de trânsito.
Quando
incutiram em nossas mentes as vantagens do grande ... só não nos disseram que o
grande favorecia a grande acumulação de riqueza por poucos e a grande
exploração
da maioria absoluta de nós. Não nos contaram que nós pagaríamos essa
conta. Que conta salgada!
Pesquisa feita nos EUA, há alguns anos, com
egressos da Universidade de Harvard, apontou que após alguns anos de formados
um percentual muito pequeno – ao redor de cinco – deles era profissionalmente
bem sucedida. Os demais tentavam sobreviver em meio ao sistema democrático,
capitalista e espoliativo que domina, não só aquele país, como o mundo em
geral. E isto ocorre com fartura de propaganda, imensa lavagem cerebral, como a
que nós brasileiros fomos expostos nos últimos 50 anos, a do grande.
A maior
concentração de pessoas, intra e extra domicílio, também expõe as pessoas mais
a doenças, como as infecto contagiosas, e à mortalidade infantil.
Se olharmos
o crescimento populacional nos níveis em que ele vem ocorrendo chegaremos a um
tempo em que não haverá, sequer, espaço para cultivarmos e produzirmos os
nossos alimentos.
Se formos
mais longe um pouco ... nem espaço para abrigar a todos ...
Por que,
então, não anteciparmos e estabelecermos regras mais humanas, mais adequadas à
normalidade da vida de um ser humano?
Isto, a
nosso ver, passa, obrigatoriamente, por:
1) priorizar
a vida das pessoas, com controle inteligente das proles, o que inclui dar a
possibilidade legal de não deixar nascer os filhos não desejados, e legalização da eutanásia;
2) fim da ideologia do grande,
implantando condições para que a grande massa da população tenha que se
deslocar em distâncias pequenas para as coisas básicas como trabalhar, comprar,
vender, estudar, ir ao médico, ir ao banco;
3) regras claras e válidas
para todos de modo indistinto, seja, na confecção das leis, seja na sua
aplicação;
4) mídia cumprindo sua
missão social, veiculando apenas fatos verdadeiros, sem plantar notícias, sem
aumentar ou torcer os acontecimentos conforme sua vontade ou a deste ou daquele
patrocinador, sem veicular publicidade enganosa nem de gêneros de primeira
necessidade, sem outros interesses que não os da informação, do entretenimento,
da educação, do saber e da cultura.
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