sábado, 5 de junho de 2010

ERA UMA VEZ . . .

Um país chamado Brasil, ele vinha jogando a sua população pobre nas cidades, porque à volta delas estavam se instalando grandes indústrias, a maioria vinda de além-mar.

Estas fábricas precisavam de mão de obra e até não pagavam tão mal, é verdade que diziam pagar melhor... mas, no começo e em algumas situações, davam até moradia, sem contar o treinamento. Sabe como é... colono mal sabia usar arado com tração animal...

Os colonos pobres foram atrás dos empregos urbanos... mal sabiam o que os esperava... as favelas.

Este país começou a crescer, crescer... melhor, o bolo foi crescendo... enquanto ele crescia e os paraísos fiscais sorriam... um ministro pediu paciência ao povo que já andava meio desconfiado da sua sorte, pois agora sentia que morar em favela era pior que viver no campo...

Na roça, ao menos, tinha um pedacinho de chão, mesmo que fosse em meação, para plantar um pé de mandioca, outros de milho e feijão, criar uma vaquinha magrela, um cavalo manco, um porco e uma galinha, pois na falta da carne os ovos tinha...

O bolo cresceu e foi dividido... entre quem?

Ah, não interessa ao povo. Por que o povo tem que saber destas coisas? Não vai entender mesmo, ainda bem que não entende. Ainda bem que a nossa doutrinação nas escolas, nas igrejas, no rádio e na incipiente televisão fez algum efeito. Está mostrando seus resultados!

Mas, e o bolo? A divisão dele?

Já que insistem... foi dividido entre quatro luxuosas paredes, paredes de mármore, coisa que em favela não há... afinal, esse povo miserável, nojento... um pano velho, um pedaço de papelão, resto de demolição,... o que mais ele quer?

Já sei... vamos ganhar mais un$... vamos fazer vista grossa para a maconha, cocaína,... afinal, a cachaça sozinha não vai conseguir controlar todos eles...

Antes de continuar... preciso dizer que lá traz quando as indústrias começaram a vir para cá... houve uma certa cisão, uma dissídia, ... aquelas coisas de filhos diletos, uns com ciúmes dos outros, o que às vezes os leva a brigarem feio... lembram Abel e Caim? Aqui, porém, os pais, digo, os donos do Poder Econômico, houveram por bem que os dois ficassem vivos e estabelecessem dois grupos... cada qual com uma função específica e ambos deveriam mostrar a seu público – os melhor aquinhoados e os mais explorados – que eles os defendiam até a morte. Literalmente! Contudo, com a vida dos vira-latas.

Soldados oficiais bem preparados e doutrinados alhures, do lado de quem ostentava o poder político e militar em nome e para o bem das fábricas que estavam vindo, cada vez em maior volume, e das que já estavam por aqui, além dos melhor aquinhoados, digladiavam com os soldados mal preparados mas, bem doutrinados por aqueles que, momentaneamente, não eram os filhos prediletos. Precisavam provar que mereceriam uma nova chance. Haviam ficado de castigo, fora, portanto, do banquete principal, longe da divisão do bolo e esforçavam-se em discursos, mesmo além-fronteiras, para dizerem-se defensores dos explorados, contudo, estavam de olhos bem vidrados no banquete principal.

É bom lembrar que existiam soldados idealistas dos dois lados, soldados que acreditavam na causa que um e outro diziam defender, como hoje temos pessoas que acreditam naquilo que o poder instituído diz, seja quem for o ocupante do cargo e aqueles que acreditam no que a chamada oposição apregoa, independente de quem é.

Lá, como hoje, também existiam aqueles que eram interesseiros, aqueles que são contra tudo e todos que não lhes representam possibilidade de ganho pessoal...

Voltando aos soldados idealistas dos dois lados... estes, ah, estes, ... sabe, em briga de cachorro grande, vira-lata, por fiel e correto que seja, sempre leva mordida, digo, bala dos dois lados.

Continuando com as fábricas à volta das cidades... luxo, miséria e poluição... mansões, favelas e fábricas que com o dinheiro público geram empregos... nos paraísos fiscais. A última crise financeira mostrou bem isto, apesar da drenagam de toda dinheirama dos cofres públicos para que não houvesse desemprego, demitiram em profusão. Sem dó, nem piedade!

Para o bem delas e para a manutenção dos sorrisos, conveniente era um parlamento onde um rezasse e o outro dissesse amém... situação e oposição permitida, consentida. Quem ousasse afrontar sofria as conseqüências!

Diziam as más línguas, sempre elas... que um dos baluartes da turma do amém, digo, da resistência democrática, na hora da filiação foi para a fila da reza... ficha nº 1... nesse momento um fardado cheio dos medalhões saiu detrás de um enorme portão de ferro grosso e chamou-o, alto e bom tom,... Fulano... e ele já levantou os braços pensando que seria preso... erraste a fila! ... meio gaguejando tentou dizer algo, quando dois soldados o puxaram pelos braços até a outra fila... o dos medalhões finaliza... permanece com a tua ficha nº 1! Daquele lado serás mais útil!

Voltando... um manda daqui outro berra dali... exílio, mortes – em geral de vira-latas – rebeliões, tiros, cheiro de pólvora,... por fim, abertura, armistício...

Os barrados do baile, digo, do banquete principal, melhor e para ser correto politicamente, a resistência democrática, elabora projeto de anistia... dele não constavam pessoas que, de fato, eram idealistas e lutavam contra a enganação e a exploração. Esses causavam calafrios na turma da reza e do amém. Mas, os da reza, expertos e com o papel e a caneta nas mãos, incluem-nos na lei de anistia.

Enquanto isso o arroz e o feijão – a carne é para exportação – vão escasseando no prato do povo e, é claro, os sorrisos se alargando... rezadores e a turma do amém fecham acordo... dos primeiros sai o Presidente, mas sem medalhões e posando como alguém da antiga turma do amém....

Confusões daqui, entraves de lá... finalmente, não sem antes haverem experimentado um profundo desgosto... não é que um dos filhos diletos, o primeiro ungido como Presidente “democraticamente” eleito pelo povo, virou-se contra a tradicional força do Poder Econômico... não é que ele quisesse beneficiar o povão, apenas quis favorecer mais a turma dele mas, finalmente, depois do susto, o verdadeiro armistício, a verdadeira paz e harmonia, para deleite do Poder Econômico, é claro...

Trato feito, paz selada!

E os dois grandes grupos, digo, partidos de ontem, já subdivididos, começam a se reencontrar em intere$$eira$ (e o que, nesta horda não é intere$$eiro?) alianças... mas, sob a batuta do mesmo chefe superior de sempre a quem devem explicações e mais obediência, é óbvio, o Poder Econômico.

Permitem até que um ex-sindicalista, outrora preso por afrontar – mais ou menos, menos que mais – o mesmo poder moderador, o Poder Econômico, seja Presidente da República, mas dentro de uma filosofia elementar, como já havia acontecido com um ex-sociólogo, que mandou que o povo esquecesse tudo que defendera no passado: o Vice-presidente é da turma da outrora Reza. Assim, se alguém se atrever a afrontar o Poder Econômico perde a regalia e assume o Vice, clara e inequivocamente, identificado com os ditames desta turma.

A partir daí as antigas turmas da reza e do amém revezam-se, ora na situação, ora na oposição, mas sempre com o mesmo discurso. Quando na oposição, ataques ao grupo palaciano e quando encastelados no poder, repetem aquilo que o parceiro anterior fizera.

Depois da dupla Colllor (representante do Poder Econômico) e Itamar (identificado como de centro-esquerda e populista), como o primeiro virou-se contra o criador, o Poder Econômico foi mais inteligente: na Presidência alguém tachado de defender os interesses do povão – primeiro um ex-sociólogo e depois um ex-operário – ambos, porém, tiveram como Vice alguém do agrado do Poder Econômico – o ex-sociólogo teve como Vice nos seus oito anos de reinado um dos baluartes da antiga ARENA e o ex-operário um MEGAEMPRESÁRIO. Nesta fórmula, caso a criatura se vire contra o criador, tiram-na do poder e lá colocam um dos deles... sem as preocupações que o Senhor Itamar Franco representava... deu muito trabalho esse topetudo para embretá-lo, para terem-no sob controle: fotos em jornais de circulação nacional ele tomando chope em barzinhos, fotos ao lado de moças flagradas sem calcinhas...tudo isto era desgastante para os Chefes Supremos. Para o Poder Econômico!

O operário quando dava ares de reeleição teve que enfrentar uma turbulência – CPI do Mensalão - para que o Poder Econômico pudesse se convencer que ele era confiável e mereceria uma nova chance... mostrou-se fiel! Teve todo apoio para um segundo mandato, depois que mandou retirar a propaganda que incitava a bons modos, respeito e boa educação entre as pessoas do povo. Onde já se viu povo sendo respeitoso uns com os outros? Retirada a peça publicitária, situação e oposição, estrelados e tucanos, saborearam a pizza.

Ah, eu ia esquecendo, como alguns andam falando em guerrilha... fiquem tranquilos, a televisão não deixa mais ninguém sair da sala e ir para o mato gastar chumbo. Ademais, as guerrilhas urbanas, do chamado crime organizado, dão conta de gastar a munição necessária para dar gordos lucros para essa facção do Poder Econômico.

E, assim, termina mais um capítulo da história de um país chamado Brasil, onde os políticos de todas as matizes fazem de conta que defendem o povo e, pior, lastimavelmente, sempre tem quem os defenda, apesar de todos os absurdos que praticam contra o povo explorado e a favor do Poder Econômico Explorador.

Saúde e felicidade.

5 comentários:

  1. Como sempre adentrando em temas de complexos meu caro...

    abraço

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  2. Nossa história mostra o porque estamos onde estamos. Sei que pelo tanto de impostos que são recolhidos aos cofres públicos, não deveríamos ter uma assistencia tão miserável na saude, segurança e educação.

    Os planos economicos foram maquinas de enriquecer alguns.

    Otima reflexão sobre nossas mazelas.

    Abçs

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  3. Olá João Pedro,

    Obrigado pelo comentário no 'Cine Freud'.
    Muito interessante a proposta crítica que se propõe a expressar!

    abraços

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  4. Obrigada pela visita em meu blog pessoal, João!
    Já estou seguindo o seu blog também.
    E, a propósito, você escreve muito bem! Suas palavras são expressivas e ao mesmo tempo suaves.
    Tudo de bom pra você!
    Abraço,
    Évelyn

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  5. Apesar de breve, essa é a nossa verdadeira história; feita de inconguências, mentiras e oportunismo.
    Que triste...

    Gostei muito do seu espaço.
    Um abraço

    Rossana

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