quinta-feira, 30 de julho de 2015

POR QUE A COMIDA É TÃO CARA?



Peço-lhe paciência, mas, por favor, é do seu interesse, do nosso interesse, leia até o fim. Perdoem a extensão, não fui capaz de resumir em poucas linhas. 

Para entendermos porque pagamos tão caro pela nossa comida é necessário que compreendamos o que é escondido de nós pelos formadores de opinião, especialmente, da grande mídia.

Dos aproximadamente 400 milhões de hectares – cerca de 47% de todo território brasileiro - titulados como propriedade rural privada, apenas 60 milhões de hectares – 15% dessas terras - são cultivados. O restante dessas terras está ocioso - cerca de 100 milhões de hectares, i.é, 25% - ou subutilizado - 240 milhões de hectares, i.é, 60%

Há no Brasil aproximadamente 5 milhões de famílias sem terra, contudo, se lhes fosse dado o sagrado direito à oportunidade de trabalhar e produzir, a nossa alimentação custaria bem menos.  

Cerca de 90% das propriedades rurais têm menos de 100 hectares e cerca de 1% delas – com áreas acima de 10.000 ha - correspondem a quase a metade do total da terra própria para a agricultura, equivalente à soma das superfícies de todos os Estados das Regiões Sul e Sudeste mais a do Estado do Mato Grosso do Sul.

Em termos de produção é ainda mais chocante, pois as propriedades com menos de 100 ha respondem por mais da metade da produção agropecuária, ao passo que aquelas acima 10.000 ha e que representam quase metade da terra cultivável do Brasil, respondem por míseros 4% do total desta produção, via de regra destina à exportação.

Ao analisarmos o emprego de mão de obra percebe-se ainda maior disparate, já que as propriedades com menos de 10 ha absorvem mais de 40% da mão de obra e as com área acima de mil hectares empregam cerca de 4% da mão de obra.

Se os 100 milhões de hectares de terras ociosas fossem cultivados da mesma forma que são as propriedades que geram mais da metade da produção agropecuária brasileira, certamente, haveria consideráveis excedentes de comida no Brasil e a preços bem menores daqueles praticados desde há muito. 

As 5 milhões de famílias sem terra teriam, cada uma, sua propriedade com média de 20 ha. E com maior produção no campo, as cidades em função disto também gerariam grande número de novas oportunidades de trabalho, no beneficiamento e comercialização dessa produção rural maior, reduzindo o número de desempregados.

Isto, pelas leis de mercado, sempre tão enaltecidas pela mídia quando convém ao grande capital aumentar os preços do açúcar, do feijão, do trigo, do arroz, da carne, do leite, etc., obrigatoriamente, faria os preços da cesta básica e da alimentação em geral reduzirem. Não haveria argumentos suficientes para convencer a população a pagar, p.ex., por um quilo de feijão R$ 5,00 ou mais.

Com um pouco de autoridade (e coragem) de nossos governantes e a grande mídia se preocupando em veicular também fartamente a verdade, mesmo que possa contrariar aos interesses de seus grandes patrocinadores, os produtores rurais não ficariam no prejuízo. Mas, os grandes atravessadores, que, manipulando as leis de mercado com o silêncio da governabilidade, obtêm lucros inescrupulosos entre o campo e o comércio varejista, deixariam de ganhar tanto quanto ganham com terras ociosas e subutilizadas e milhões de trabalhadores rurais brasileiros impedidos de produzirem.

Falar a favor do Movimento dos Sem-Terra quase sempre enseja críticas. Por favor, pare um minuto para pensar: com mais de um quarto, mais de 25%, da terra agricultável do Brasil ociosa e você entre as 5 milhões de famílias de agricultores sem um pedaço de terra para poder, na pior das hipóteses, plantar alguma coisa para o seu sustento e o de seus filhos, como você se sentiria?

A maioria dos imigrantes que chegaram para colonizar o Brasil, oficialmente, pertencia à mesma casta social – excluídos, escória - das famílias que estão acampadas Brasil a fora à beira de estradas esperando um naco de terra – muitas esperam a vida toda sem concretizarem seu sonho. Nossos antepassados, na maioria, passaram por sofrimentos e constrangimentos idênticos aos da gente que luta por terra hoje no Brasil sob a bandeira do MST. Logo, não julgue essas pessoas pelo que ouve dizer, pelo que leu, pela emoção, ... coloque-se no lugar delas antes de mais nada, depois pense nos seus (nos teus) antepassados e, por fim, no quanto você poderá economizar na sua alimentação se essa gente sofrida puder produzir e colocar mais comida à disposição de nós consumidores.

Henry Wadsworth Longfellow, poeta estadunidense do século19, escreveu “Se pudéssemos ler a história secreta de nossos inimigos, descobriríamos na vida de cada homem tristeza e sofrimento suficientes para desarmar toda a hostilidade.”

Não considere os sem-terra seus inimigos, mas, sim, seus semelhantes.

O “João sem medo” que “prendia e arrebentava” foi, todavia, medroso diante do grande capital para fazer cumprir sua promessa “Plante que o João garante”.

Tomara que nós brasileiros não nos acovardemos e demos um chega para lá nos golpistas que se escondem por trás dos boquirrotos que estão a bradar pelos interesses do grande e explorador capital no Brasil atualmente. Loucos que estão os golpistas para assumirem o poder e acabarem com todas as práticas inclusivas que hoje existem, felizmente e graças aos Governos Lula e Dilma, em nosso país.

Muito obrigado pela paciência e esteja a vontade para opinar, para criticar, para compartilhar!

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